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sexta-feira, 17 de maio de 2013

   



Acordou com o despertador quase lhe ensurdecendo,os olhos ainda úmidos (culpa do sonho que tivera),deu um pulo e foi pro chuveiro.  Não queria pensar,fazia dias que tentava esquecer. Tomou um gole de café amargo,tanto quanto tudo que estava emaranhado em sua garganta, e tragou o primeiro cigarro do dia. Era uma manhã gelada,pegou um casaco qualquer e correu para o ônibus.
  Ficou o dia inteiro sorrindo,fingindo estar bem,fingindo estar insensível a tudo que estava acontecendo ao seu redor.
  Era engraçado,agora ver,o quanto as pessoas fingiam o tempo inteiro. Seu grandes companheiros,seus "brothers",sorriam pra ela e ao mesmo tempo queriam comê-la viva. Se pudessem iriam devorá-la ali mesmo,na frente de todo mundo. Depois de um tempo,ela também aprendera a se virar assim,era mais fácil. Olhava,sorria e pensava: "- como vocês podem acreditar que eu não vejo? que eu não sei?" Ela sabia,sempre soube. Preferiu acreditar que não por um tempo,é verdade,mas sabia e via cada gesto meticuloso deles.
  Ao fim do dia,encontrou com ele,no café. Os dois estavam fumando e a mistura de café com cigarro,que tanto dava prazer á ela,a fez ter vontade de vomitar. Ele sorriu,tímido. Não sabiam mais como se cumprimentar. Sorrir? Beijar? Bater? Esnobar? "Sejamos sociais,oras!Vivamos de aparências!" Sabia que era isso que pensavam.
  Ela o olhou,os cabelos escorridos e as calças encharcadas,culpa da chuva que caiu mais cedo. Ele era tão lindo assim. Depois o olhou,o analisou e viu que ele era tão feio. Alguém tão sem coragem,alguém que se perde,que tem medo de si próprio,que foge,alguém digno de pena...
  Fingir não era a melhor coisa que ela sabia saber,não conseguiu ficar mais do que cinco minutos perto dele,pegou a bolsa com certa violência e partiu. Todo o amargo tentando sair de dentro dela,a vontade de gritar,de pegá-lo pelos braços e mostrar todo o mal que ele tinha feito.
Mas,não fez nada disso,ela também era digna de pena. Ela também tinha medo dela,também lhe faltava coragem. Apenas caminhou em direção ao ônibus e foi em busca de uma nova filosofia de vida.